Política

terça-feira, 16 de outubro de 2012

O Kit Gay com que andas dirá quem tu és: ambidestria política e populismo cambial. 

Gabriel Volpi Muzzi


 A eleição presidencial brasileira de 2010 ficou polarizada em um embate ideológico (na acepção marxiana do termo) entre o discurso progressista e liberal (na acepção da esquerda estadunidense) e o discurso conservador, moralista e religioso. Do lado esquerdo da lança o discurso da tolerância, da inclusão, das cotas raciais e do movimento LGBT. Do lado direito a moral, os bons costumes, a família, a propriedade e a meritocracia.
A esquerda acusou Serra de reacionário, homofóbico e moralista medieval. A direita acusou Dilma de abortista, populista e guerrilheira. Por aí qualquer cidadão com razoável conhecimento político saca que a qualidade do debate está longe de apontar para nossa sociedade como uma sociedade democraticamente madura. Pior que isso é o paradoxo geométrico e conceitual entre esquerda e direita no Brasil. Tradicionalmente, as ações intituladas como progressistas e liberais pertencem à perspectiva de supremacia das escolhas individuais em detrimento do controle estatal. Uma bandeira da direita liberal. No Brasil, o Governo de esquerda tutela a possibilidade das escolhas e vende isso com um rótulo progressista. Pior, coage a população através do ideário "politicamente correto" que essa é a única e verdadeira versão dos fatos. Por outro lado, a dita "direita" adapta-se à mesquinhez dos pleitos e lança mão de discursos eleitoreiros com fundo moralista. O PSDB de Serra nasce de uma perspectiva ideológica da esquerda. Sim - antes que o leitor desavisado se confunda - teoricamente a Social Democracia é uma ideologia política de esquerda. Talvez alguém se pergunte como pôde então o governo FHC ter feito diversas privatizações, enxugado a máquina estatal e apostado nos valores de laissez faire num projeto econômico "neoliberal"? Incoerência? Talvez...
O microscópio dos ideólogos e estudiosos da política fica embaçado quando é a democracia brasileira que está sob enfoque. Vale tudo no discurso eleitoral, independentemente da essência política dos partidos. Parece que o embate purista foi para as cucuias com o fim da ordem bipolar em 1989. A esquizofrenia poética e programática é legitimada com o peixe bem vendido da democracia. Um ateu reivindica o direito de instalação de uma ONG evangélica com fundos repassados por um governo socialista e administração terceirizada de uma montadora multinacional. Incoerência? Não, é a democracia! Um governo negocia a exportação de commodities com a China, dialoga e faz parcerias comerciais com os Estados Unidos, com a União Europeia, Venezuela e Bolívia. Esse mesmo governo que pleiteia uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, mas defende a soberania do Irã e pede o fim do bloqueio econômico para Cuba na abertura da Assembleia Geral dessa mesma Organização. - "Ah! Mas é a democracia! Não dá pra ser coerente em tudo."
Parece que a transcendência do dualismo é o novo mingau psíquico da politicada. A conveniência da efemeridade superou a concretude das definições. O bissexualismo como produto da mistura homo + hetero está defasado. O centro moderado como produto da mistura esquerda + direita já se foi há muito tempo. “Só sei que nada sei”, profetizou o pai da pólis. Em matéria de conceituação tudo pode ser ou não ser, eis a questão. O que é mais moralmente adequado ganha o coração do brasileiro médio. Tudo depende da conjuntura. Assim foi a acusação do PT e PSDB contra a Igreja Universal na campanha do Russomano. E assim segue a troca de farpas entre o Silas Malafaia e o Kit Gay do Haddad. Moral, religião e demagogia cada vez mais a serviço daquilo que costumam chamar de política por aqui.

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